Grasieli Farias
1 min readSep 28, 2020

Me deu uma vontade de tirar um autorretrato, imaginei uma fotografia que tivesse o olhar penetrante de quem olha e enxerga até mesmo aquilo que não se vê.

Se um dia eu quis ter olhos de cigana oblíqua e dissimulada, dessa vez esses olhos transpareceriam bagagem. Através deles eu iria dizer que eu não confio nos remédios que tomo; dois pela manhã, dois antes de dormir; mas o medo de não tê-los é tão maior que a incredulidade da eficiência de seus compostos químicos.

Pelos meus olhos quem tivesse curiosidade poderia enxergar as noites que acordo pela madrugada e ando solitária pela casa, ainda poderia sorrir e meu semblante teria os lábios levemente abertos que, se você quisesse, poderia acreditar que se transformaria em um sorriso singelo.

Cada um que se deparasse com tal rosto iria poder me perceber, mas também se perceber, sentir-se humano e respirar mais profundamente como se quisesse ter certeza que o ar pode entrar e sair até o fim.

Hoje eu tive a ideia de fazer um autorretrato visual, mas minhas posses me possibilitam apenas a escrita. Então esse rosto, do qual falei um tanto, eu deixo para vocês recriarem em suas próprias cabeças.

Grasieli Farias

Escutadora, escrevedora e fazedora de coisas que ninguém quer saber.