Não entre nos bares do Centro

Grasieli Farias
2 min readAug 22, 2022

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Desci do tubo, ainda faltavam alguns minutos para às 8h.

Decidi gastar um dinheiro equivocado num desses cafés que se pulverizaram pela cidade, que apesar do lema “to go”, tinha uma mesinha que o tornara ideal para esperar os minutos que iriam correr até o começo do expediente.

Apesar do frio curitibano, do céu que desanima qualquer sorriso, do horário e, provavelmente, do baixo salário, a atendente era simpática e me ajudou com o pedido.

Paguei e logo ouvi meu nome. Comentamos sobre o pão de queijo estar quentinho e fui para a mesa.

O fone novo é realmente muito bom e deixa qualquer música do Emicida ou da Fresno ainda melhor.

E foi aí que você surgiu.

Às 8h da manhã de uma segunda-feira, enquanto eu pagava o que você jamais pagaria por um café, sentindo o frio que você odiava e ouvindo músicas que me transportam para essa poesia que crio sobre a nossa história.

Era 2012, você morava aqui, eu vim prestar vestibular. Naquela época a viagem demorava cerca de 10 horas.

O ônibus chegou perto das 6h, quando nos encontramos você, aparentemente com fome, disse: “Aqui perto tem um pastel de R$ 1,00” e, em seguida, brigou comigo por ter te feito ir até a rodoviária.

O combinado era descer no chafariz, mas eu dormi quando o motorista avisou a parada.

Você, aquela moto que ultrapassava os carros pelo corredor, e eu com os olhos fechados, afinal se a gente batesse era melhor não estar olhando.

Você, a cidade grande que odiava, um futuro que nem você sabia exatamente no que daria, eu tão confiante de que estaria aqui um dia.

Você voltou, seu lugar não era aqui.

Eu cheguei.

Você se foi.

Eu fiquei.

E então você também.

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Grasieli Farias

Escutadora, escrevedora e fazedora de coisas que ninguém quer saber.