Sua alegria foi cancelada
A alta me avistava a algumas burocracias hospitalares de distância. O plano já estava previamente arquitetado: fingir plenitude, dizer que tudo não passou de um mau súbito e que não ocorreria novamente, afinal eu já estava ótima.
Mas aí, quando sentamos frente a frente, ela me surpreendeu com uma indagação crucial: “aqui no prontuário diz que você não se arrepende…”
Então eu estava ali, de frente para a pessoa que poderia me oferecer a alforria, mas paralisada após sua fala, o que eu deveria dizer? Afinal, eu estava arrependida?
Quanto tempo é necessário para que outro episódio como esse volte a acontecer?
Fiquei muda, talvez essa fosse a melhor resposta que eu poderia lhe oferecer naquele momento.
Mas aquelas palavras continuaram ecoando por aqui, me fazendo questionar se, em algum momento, chegaria o dia em que eu conseguiria suportar a existência humana sem sofrer por cada percalço.
Pois é, Clarice, a vida é esse estrondoso soco no estomago e eu venho sendo apunhalada pela minha própria vontade.
A verdade é que gostaria de encontrar uma forma de partir sem proporcionar qualquer dor aos que ficam.
Muitos dizem que o suicídio é um ato egoísta, um ato de mentes fracas, que quem o consolida não vai para o céu, afinal desistiu da vida que Deus lhe deu.
Esse texto não tem fim, até busquei artifícios para terminá-lo de forma poética, mas não encontrei nada bom o suficiente para dizer que há esperança, porque não há.